Cientista de Harvard apresenta melhorias para o ensino no IFRR
Messias Borges: “Inovar não se trata apenas de ter tecnologia. É encontrar soluções para as necessidades humanas, com os recursos existentes”
Durante toda a palestra ministrada para professores, servidores e alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR), o coordenador do curso de pós-graduação em Engenharia da Qualidade da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo em Lorena (EEL-USP Lorena) e também cientista e professor associado na Universidade de Harvard nos Estados Unidos da América (EUA), professor doutor Messias Borges da Silva, enfatizou a importância do docente ter coragem de mudar o modelo de ensino para poder inovar e alcançar melhores resultados na aprendizagem.
Ele foi convidado pelo instituto, por meio de uma parceria com o programa de Mestrado de Engenharia de produção da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp)/ Guarantinguetá, para proferir a palestra “Inovação no ensino e na aprendizagem”, em que abordou o trabalho que vem desenvolvendo há cerca de dez anos, com base nas experiências adquiridas em universidades internacionais como Harvard, Massachusetts Institute of Technology, Stanford e Olin College. O objetivo das ações desenvolvidas é a melhoria da qualidade do ensino superior no País.
Ao apresentar um cenário sobre a atual situação do ensino nas Instituições de Ensino Superior (IES) do País, Borges disse que é preciso parar de reclamar tanto da realidade e fazer algo que muitas vezes depende muito mais de quem está reclamando. “Educação é algo que temos que fazer com paixão e esforço. Onde tiver tecnologia, ótimo! Vamos fazer uso. Mas, onde não tiver, vamos trabalhar também. Nosso desafio é correr atrás e fazer o melhor com o que temos”, alertou.
Apresentando opções e ferramentas de inovação, aplicadas dentro e fora do Brasil, o cientista destacou que, antes de aplicar as mais diversas alternativas existentes, é importante que o educador desça do pedestal e mude o modelo tradicional de ensino, centrado apenas no professor, para o método em que o aluno é o mais importante, colocando-o como figura central do trabalho, pois se o estudante não aprende, a culpa não é dele, mas do docente.
“O mundo passa constantemente por transformações, e precisamos acompanhar. Os alunos atuais têm certo período de atenção, não conseguem ficar mais de 15 minutos focados. Depois disso, ficam dispersos, geralmente usando celular. São diferentes, e o modelo tradicional não funciona mais com eles, que são mais evoluídos. Precisamos incentivá-los a participar mais de discussões, a resolver problemas que encontrarão na vida real, parando de forçar a barra para que simplesmente decorem fórmulas ou se apeguem em macetes para passar nas provas. Explorar a capacidade criativa para irem além da lista de exercícios leva os alunos muito mais longe, e cabe ao professor encontrar a maneira mais produtiva de fazer isso”, explicou, observando ainda a necessidade de repensar os modelos de conceituação, pois nem sempre notas altas indicam que o aluno está preparado.
Mas ele destacou que, apesar de depender muito da vontade do educador, para desenvolver todas as inovações necessárias à melhoria do ensino, não basta copiar novos métodos desenvolvidos mundo afora. É preciso respeitar as regionalidades, discutir ao máximo as alternativas e ferramentas e, com base nisso, fazer a adaptação. “Estamos formando gente, e isso é muito sério. Por isso, temos que ser educadores de corpo e alma, entendendo que inovar não se trata apenas de ter tecnologia. É encontrar soluções para as necessidades humanas com os recursos existentes”, observou.
Sete princípios de boas práticas no ensino de graduação:
1. Incentive o contato entre o aluno e o professor;
2. Desenvolva reciprocidade e cooperação entre os alunos;
3. Utilize técnicas de aprendizagem ativas;
4. Dê feedback imediato ao aluno;
5. Enfatize o tempo e a dedicação nas tarefas;
6. Ajude a “pensar alto”, ter metas elevadas;
7. Respeite a diversidade de talentos e formas de aprendizagem.
Obstáculos à aprendizagem ativa:
*Considerações de tempo;
*Tradição (eu sempre dei aula assim. Aprendi assim);
*Resistência estudantil no início, no meio e no fim;
*Falta de apoio e suporte (infraestrutura);
*Atuação na zona de conforto.
Público debate sobre propostas apresentadas
As formas de aplicação de métodos inovadores e as dificuldades foram discutidas por professores no IFRR
Depois de uma manhã de informações a respeito de diversas práticas inovadoras de ensino dentro e fora do Brasil, o público participante do evento, no auditório do Campus Boa Vista (CBV) do IFRR, pôde interagir com perguntas sobre a aplicação dessas metodologias e funcionamento de ferramentas apresentadas pelo professor doutor da USP.
Temas como a participação da gestão da unidade de ensino no incentivo à aplicação dessas ações, adaptação às regionalidades, competências pessoais dos profissionais para o desenvolvimento das propostas, entre outros, foram debatidos no fim do evento, considerado produtivo por grande parte dos educadores e dos estudantes, mesmo alguns divergindo das ideais apresentadas.
A reitora do IFRR, professora Sandra Mara Botelho, destacou a importância do momento de receber um profissional com tanto conhecimento a respeito de inovação no ensino superior. “Esta é uma grande oportunidade para todos nós em que o professor Messias atendeu ao nosso chamado e fez uma verdadeira maratona, ministrando essa palestra em todas as nossas unidades. O momento foi de beber na fonte do conhecimento de um profissional que se disponibilizou a dividir todas essas experiências conosco. Foi uma semana muito produtiva”, declarou.
Para o professor de Biologia do Campus Boa Vista Zona Oeste (CBVZO) do IFRR Isaac Sutil, esse tipo de iniciativa é importante, sobretudo de forma institucional, para despertar quem está na base. “Muitas vezes acabamos nos acomodando no dia a dia do trabalho, e é importante que a instituição traga um evento como esse para que dê um choque de realidade na gente, para pensarmos em alternativas que existam para a melhoria do ensino e nos lembrarmos das diversas possibilidades, além de tomarmos conhecimento de tecnologias que são acessíveis, bastando que o professor sinta necessidade de mudanças e busque isso”, comentou.
Já o professor Bernard Alves reconheceu a importância de o instituto trazer profissionais de outros lugares, de outras áreas para realizar uma troca de conhecimentos, sobretudo pelo momento atual da reformulação do ensino em todo o País. No entanto, ele observou a necessidade de ter cuidado na hora de adequar essas dimensões que outros profissionais trazem à realidade da instituição.
“É superimportante alimentar um pouco do debate aqui no instituto, e a gente estar antenado no que vem sendo feito em outros lugares por profissionais competentes, que circulam por outros espaços e não só no Brasil, especialmente para gente poder, diante dos nossos dilemas e condições locais, conseguir contemplar perspectivas que muita gente não consegue ter. Mas é preciso ter cuidado de conseguir adequar essas dimensões que outros profissionais estão trazendo às nossas questões particulares”, observou.
A estudante do curso de Letras do CBV Adriana Jacauna, apesar de defender outra linha de ensino, considerou um evento proveitoso. “Como estou desenvolvendo uma pesquisa na área da educação, a palestra foi muito boa em termos de conhecimento para comparação de ideologias de ensino. Portanto, foi um evento relevante, sim, em termos de troca de conhecimentos”, declarou.
Mais que considerar a troca de conhecimentos, outra aluna, Leidiane de Sousa, do curso de Espanhol, aprovou a iniciativa e avaliou como muito satisfatória. “O palestrante trouxe coisas atuais, abordou tecnologias em sala, como fazer para ministrar aulas diferentes das tradicionais e romper barreiras. Isso permite que professores e alunos saibam o que acontece e procurem essa mudança”, comentou.
SHENEVILLE ARAÚJO
Fotos: Gildo Souza
11/5/2017