ENSINO REMOTO – IFRR Amajari vai percorrer mais de 2.500 Km para entregar material didático a estudantes

por Rebeca publicado 01/03/2021 17h05, última modificação 18/03/2021 20h36
Serão aproximadamente 250 alunos atendidos, entre eles os yekuanas Amarildo e Mateus

Equipe do Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima (CAM/IFRR) iniciou, nesta segunda-feira (1), mais uma viagem para percorrer dezenas de localidades e comunidades indígenas de oito dos 15 municípios de Roraima para a entrega de material didático. Essa será a segunda viagem em que serão percorridos 2.527 km para atender aproximadamente 250 estudantes dos cursos técnicos e do superior. A previsão é concluir a entrega na sexta-feira, 5.

De acordo com o diretor de Ensino do CAM, Daniel Dias, aproximadamente, 640 apostilas serão impressas para atender os alunos da unidade. Isso corresponde a algo em torno de 30 mil cópias. O material inclui conteúdos das disciplinas básicas (como Português, Matemática e Biologia) e das técnicas (específicas de cada curso, como Olericultura, Nutrição Animal, Topografia, Grandes Culturas e Piscicultura).

Devido à dificuldade dos alunos em acessar à internet, o Campus Amajari iniciou as atividades de ensino/pedagógicas de forma remota no dia 8 de setembro de 2020, com as turmas do 3º ano dos cursos técnicos em Agropecuária e Aquicultura, e uma turma do superior de Tecnologia em Aquicultura. A prioridade ocorreu por causa dos vestibulares a que os formandos se submeteriam.

Já para as demais turmas de estudantes do CAM, as aulas do primeiro semestre de 2020 foram retomadas no dia 4 de janeiro de 2021, depois de reunião entre o grupo gestor, docentes e equipe de apoio. O Departamento de Ensino e as coordenações de cursos começaram a atender de forma remota e a entregar material didático para todos os alunos matriculados.

Além de a entrega ser feita de carro, o material segue de avião. Nesse caso, para atender os alunos da etnia yekuana Amarildo Magalhães Yekuana e Mateus Magalhães, moradores da Comunidade Kuratanha, região de Auaris, Terra Indígena Yanomami, Município do Amajari. As apostilas são entregues na associação Wanasseduume, em Boa Vista, e, em seguida, levadas de avião até a comunidade.

Amarildo e Mateus - alunos yekuana - Foto Divulgação

Mateus e Amarildo estão cursando o segundo ano de cursos técnicos integrados ao ensino médio, interrompidos, em março de 2020, pela pandemia do novo coronavírus. Amarildo faz o Técnico em Aquicultura (turma 136), e Mateus o Técnico em Agropecuária (turma 135).

Para o material chegar até eles nesse período de pandemia, o coordenador do curso Técnico em Agropecuária, Lucas Lima, disse que o campus conta com essa carona de avião. “Amarildo e Mateus recebem o material de forma on-line no primeiro momento e, em seguida, o material impresso é enviado no avião que dá o suporte à comunidade”, disse, acrescentando que os alunos falam pouco a língua portuguesa e que precisam de um intérprete, muitas vezes, para entender as explicações e sanar dúvidas.

Entrega de material

Para conversar com os dois estudantes por aplicativo de mensagem, a reportagem contou com a ajuda do professor e primo deles Josemar YeKuana. De poucas palavras e muito tímidos, eles comentaram sobre o ensino remoto, as dificuldades no modelo de ensino e as aulas presenciais.

Na opinião dos estudantes, segundo Josemar, a maior dificuldade tem sido a falta de costume com essa metodologia de estudo (o ensino remoto) e a interpretação dos textos das apostilas, devido à pouca familiaridade com a língua portuguesa. “Para nós, indígenas, o português é a segunda língua nossa, então há dificuldade para entender o português”, disse Josemar, informando que, há cerca de dois meses, foi instalada internet na comunidade e que isso vai facilitar as atividades e os trabalhos dos alunos.

Conforme Josemar, para Amarildo e Mateus, mesmo que a saudade das aulas presenciais exista, eles preferem permanecer com aulas remotas e continuar estudando na comunidade, recebendo o material pela internet, haja vista o risco de sair de lá e ter contato com o coronavírus.

Já o diretor de Ensino do CAM explicou que as aulas remotas de 2020.1 para as turmas de 1º e 2º anos foram retomadas dia 4 de janeiro de 2021 e que a equipe pedagógica está trabalhando com o calendário para os estudantes seguirem até julho com esse modelo. “Esse planejamento é dentro da perspectiva do cenário atual da pandemia. Quando pudermos voltar, haverá um novo planejamento”, afirmou Daniel.

 

 

 

Campus Amajari se destaca pela inclusão de alunos indígenas

 

 

A experiência de ofertar ensino técnico e formação para alunos indígenas não é novidade para o Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima (CAM/IFRR). Além dos cursos na modalidade de Educação a Distância e de formação inicial e continuada, em dezembro de 2016 quatro alunos ingaricó concluíram o curso Técnico em Agropecuária, superando o desafio de aprender fora da língua materna, percorrer dias a pé, de carona, de canoa, de barco e em outros meios de transporte para conseguir estudar.

No caso dos ingaricós, em abril de 2014 o CAM recebeu, para cursar o Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio, os estudantes Marino Sales Soares, da Comunidade Manalai; Civaldo Arceno Rafael, da Comunidade Mapaé; Civildo Alfredo Messias, da Serra do Sol; e Lêvi Souza Semeão, de Kumaipá – todas essas localidades situadas no Município do Uiramutã, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol. Três anos depois, em 2016, os alunos defenderam o trabalho de conclusão de curso.

Em fevereiro de 2017, uma nova parceria com líderes indígenas da Raposa-Serra do Sol permitiu que 30 jovens indígenas, moradores de comunidades dessa região, pudessem cursar, por meio da modalidade de alternância, o curso Técnico em Agropecuária no Campus Amajari. Eram 15 dias na escola e 15 na comunidade.

O resultado dessa parceria permitiu que, em dezembro de 2019, o Instituto Federal de Roraima comemorasse, com a comunidade, em uma grande formatura, a conclusão do curso técnico por 21 jovens indígenas. Essa foi a primeira turma composta exclusivamente por indígenas de várias comunidades da TI Raposa-Serra do Sol.

Distante 158 km da Capital, o Campus Amajari é a unidade (dos cinco campi do IFRR) com maior número de estudantes autodeclarados indígenas. Segundo o CAM, de aproximadamente 250 estudantes matriculados nos cursos técnicos e no superior presenciais, 52,60% se declaram indígenas.

 

 
Ascom/Reitoria
Rebeca Lopes
Fotos: Divulgação e IFRR
1/3/2021

CGP