IFRR no Amajari forma primeira turma exclusivamente indígena

por Rebeca publicado 16/12/2019 21h30, última modificação 17/12/2019 13h00
A solenidade ocorreu na quadra de esportes da escola estadual que atende a Comunidade Indígena do Contão, Município de Pacaraima, a 224 km da Capital, Boa Vista

Familiares e amigos de 21 formandos do curso Técnico em Agropecuária do Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima comemoraram a formatura da primeira turma composta exclusivamente por indígenas de várias comunidades da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol.  Integrado ao ensino médio e na modalidade de alternância, o curso iniciou-se em fevereiro de 2017.

A solenidade ocorreu dia 13 de dezembro, na quadra de esportes da escola estadual que atende a Comunidade Indígena do Contão, Município de Pacaraima, localizada na TI Raposa-Serra do Sol, a 224 km da Capital, Boa Vista. A turma começou com 30 alunos, sendo que 70% deles concluíram o curso. São estudantes das comunidades do Contão, Canta Galo, Olho D’Água, Surumu, São Jorge e São Luís.

Nas turmas de alternância, os estudantes dividem os estudos em duas etapas, ou seja, passam 15 dias aprendendo teoria e prática na escola, e outros 15 na comunidade. Nesta última etapa, chamada de Tempo Comunidade, precisam desenvolver atividades nas suas localidades, quer apoiando projetos já existentes, quer implementando novas intervenções.

Foram três anos de intenso aprendizado, com visitas técnicas, vivências em eventos técnicos, culturais e científicos, reuniões, alegrias, ânimos e desânimos, assim como puxões de orelhas pelos mestres. Mas, talvez o mais difícil durante o período, e não menos importante para o crescimento e o amadurecimento desses jovens, foi ter de ficar longe de suas famílias, dos amigos, da sua cultura e dos “olhos” dos pais.

Essa é a opinião de pais e formandos, que também reconhecem que foi um momento ímpar. “Não tenho palavras para descrever. É um sonho que está se realizando”, disse a dona de casa Jaqueline da Silva Marcolino, mãe do mais novo técnico em agropecuária João Davi Claudino da Silva, 18.

Ao surgir a oportunidade de ter um filho no IFRR, ela não pensou duas vezes. O filho, que, no início, não queria mudar de escola, foi intimado pela mãe. “A escola estadual estava com dificuldade de professores, e eu falei para ele que ele iria, porque eu estava mandando. E, com dois meses, ele já estava gostando. Depois vieram dificuldades, mas eu disse para ele aguentar”, frisou, e, com os olhos marejados, afirmou que o mais difícil foi a saudade e enfrentar o tempo longe do filho.

Para o pai do formando Fernando de Oliveira e morador da Comunidade do Contão Orlando da Silva Oliveira, os três anos de curso proporcionaram mudanças na vida do filho em relação ao conhecimento e ao amadurecimento. “Eu acredito que foi uma grande oportunidade que ele teve e, para mim, é um privilégio ter um filho que deu um grande passo na educação e na área de agropecuária”, frisou.

O conhecimento adquirido pelo filho, conforme Silva, que mantém atividades agropecuárias na localidade, já está ajudando muito. Neste ano, iniciou uma criação de porcos, comprou umas vacas leiteiras e colheu mais de 2 toneladas de milho da roça da família.  “Ele contribui muito, e já estamos preparando uma área para plantar hortaliças”, avisou.

A reitora do IFRR, Sandra Maria Dias Botelho, destaca que a oferta do curso pelo Campus Amajari tem uma significância enorme do ponto de vista da oferta de uma educação pública de qualidade e, sobretudo, inclusiva. “Hoje [13], o Instituto Federal de Roraima, mais uma vez, cumpre sua missão. Com essa formação integral que esse novo profissional, agora vindo para a sua comunidade, terá, é só colocar em prática os conhecimentos na comunidade. Para nós, do IFRR e do Campus Amajari, é um momento ímpar, e precisamos garantir essa oferta, porque o potencial da comunidade é grande”, afirmou.

À frente do Campus Amajari há dez anos, desde o processo de consulta à comunidade da região do Amajari para a implantação do campus, o diretor-geral, George Sterfson Barros, recordou o início das articulações para oferta da turma de alternância do Contão. “Não podemos, em hipótese nenhuma, dizer não para a comunidade. O papel do Instituto Federal é esse, de dar oportunidade a quem não tem oportunidade, conforme a Lei 11.892, de criação dos IFs”, discursou.

Sterfson lembrou aos formandos que, a partir de agora, inicia-se mais uma etapa, a de formação superior, e que dois novos alojamentos estão quase concluídos, inclusive um vai atender ao curso superior. Hoje a unidade oferta o curso de Tecnologia em Aquicultura e, no próximo ano, deve ofertar Licenciatura em Ciências da Natureza. “As oportunidades estão aí, mas o maior compromisso que vocês têm é com a comunidade de vocês”, afirmou.

 

 

Ascom/Reitoria
Rebeca Lopes
Fotos: Nenzinho Soares/IFRR
14/11/19
 

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