SUPERAÇÃO – IFRR forma primeiros alunos da etnia ingaricó

por Rebeca publicado 15/12/2016 16h15, última modificação 16/12/2016 13h53
A palavra para traduzir os anos de estudo no Instituto Federal de Roraima, para quatro alunos da etnia ingaricó, não pode ser outra: superação. Superar, pelo menos duas vezes ao ano, quase cinco dias de caminhada no meio da mata, sozinhos, navegando por rios, andando de ônibus, viajando em outros veículos, de suas comunidades até o Campus Amajari (CAM), no norte de Roraima. Tendo o ingaricó como língua materna, estudar em outro idioma também foi outro desafio.

A palavra para traduzir os anos de estudo no Instituto Federal de Roraima, para quatro alunos da etnia ingaricó, não pode ser outra: superação. Superar, pelo menos duas vezes ao ano, quase cinco dias de caminhada no meio da mata, sozinhos, navegando por rios, andando de ônibus, viajando em outros veículos, de suas comunidades até o Campus Amajari (CAM), no norte de Roraima. Tendo o ingaricó como língua materna, estudar em outro idioma também foi outro desafio.

Essa tem sido a rotina, desde abril de 2014, dos alunos ingaricó do curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio Marino Sales Soares, 21, da Comunidade Manalai; Civaldo Arceno Rafael, 19, da Comunidade Mapaé; Civildo Alfredo Messias, 21, da Serra do Sol; e Lêvi Souza Semeão, 25, de Kumaipá – todas essas localidades  situadas no Município do Uiramutã, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol.

E, para fechar com chave de ouro os anos de estudo, por que não enfrentar um novo desafio? Nesta sexta-feira, dia 16, às 10 horas, Lêvi, Civildo e Civaldo apresentam os Trabalhos de Conclusão de Curso para receber o título de primeiros ingaricós a se tornarem técnicos agropecuários. A presidente da banca é a professora-orientadora Camila Morais e haverá a participação dos professores Rafael Fiusa e Pierlângela Cunha, diretora de Ensino. Marino deve apresentar o TCC ainda este mês.

Para os alunos Civildo e Civaldo, o primeiro ano foi o mais difícil por vários aspectos, como o de ser falante apenas da língua ingaricó e ter de aprender as disciplinas Inglês e Espanhol, e outras como Física e Topografia. “No início, ‘pensou’ em desistir porque era muito difícil, mas agora a gente tá triste, muito triste, que vai deixar a escola. Nós ‘vai ficar’ com saudades dos nossos professores, dos colegas, da escola”, disse.

De acordo com a diretora de Ensino, houve acompanhamento pedagógico desses discentes no sentido de buscar alternativas que os ajudassem no processo ensino-aprendizagem. Eles tiveram reforço escolar em língua portuguesa, e alguns professores fizeram avaliações orais pela facilidade de eles explicarem os conteúdos de forma oral. “Penso que foi um diferencial que a instituição propiciou”, disse.

A professora Camila Morais analisa que o aprendizado dos professores e desses alunos enriqueceu tanto o lado profissional quanto o pessoal, pois foi preciso empenho dos dois lados. Na questão do estágio dos ingaricós, que ocorre no fim do curso, ela explica que também houve superação. “Imagina eles [alunos] tendo que, além da língua materna, falar português, aprender inglês, espanhol. Então, eles tinham dificuldade no entendimento da teoria de algumas disciplinas, mas foi superada com a prática”, avaliou.

O diretor-geral do CAM, George Sterfson Barros, explica que, em 2013, durante uma assembleia do Conselho do Povo Indígena Ingaricó (Coping), surgiu a demanda por cursos profissionalizantes dentro da região, que é de difícil acesso, mas, por questões de infraestrutura e logística inviabilizarem a implementação, o IFRR garantiu, como medida emergencial, quatro vagas para indígenas ingaricó, incluindo alimentação e alojamento durante todo o curso.

Segundo Barros, o grande diferencial nesse processo foi a indicação dos participantes. “A própria comunidade indicou os alunos, que, depois de formados, devem passar um ano nas comunidades desenvolvendo atividades agrícolas, repassando o que aprenderam na sala de aula e nas práticas do curso”, relatou.

 

Rebeca Lopes
IFRR/Campus Amajari
14/12/2016

CGP