EXEMPLO – Professora e pesquisadora do IFRR recebe reconhecimento no Prêmio Elos da Amazônia 2021 – Edição Açaí

por Sofia Lampert publicado 11/02/2022 14h35, última modificação 11/02/2022 15h53
Além do destaque recebido em premiação, a matéria traz uma entrevista especial com a docente trazendo um pouco da sua trajetória acadêmica

A cientista de alimentos e professora do Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima (CAM/IFRR) Danielle Cunha de Souza Pereira recebeu, nesta semana, o certificado de reconhecimento do Prêmio Elos da Amazônia  2021 – Edição Açaí, referente ao trabalho desenvolvido por meio do projeto “Conservação de produtos derivados do açaí à temperatura ambiente”.

Conforme organizadores, a premiação é uma realização do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) e do Impact Hub Manaus, com apoio da rede Uma Concertação pela Amazônia. A proposta é apresentar e oferecer soluções para as cadeias produtivas da Região Amazônica, auxiliando comunidades e cooperativas que atuam diretamente nesses processos, sendo que, nessa primeira edição, o produto escolhido foi o acaí.

No período de agosto a setembro de 2021,  a organização do prêmio recebeu 56 propostas. Dessas, nove foram selecionadas para serem apresentadas no evento Açaí Pitch Day, no modelo pitch, perante a banca examinadora do certame. Entre os projetos aprovados estava o da professora  do IFRR,  abordando os resultados de pesquisa sobre o açaí, tema que estuda há dez anos.

Durante a apresentação,  Danielle falou sobre o processamento do açaí e o aproveitamento das sementes para a produção de embalagens ecológicas.  O evento, com a exposição da pesquisadora, está disponível no canal do Impact Hub Manaus no YouTube, no link https://www.youtube.com/watch?v=y3bhAnif_os, no tempo da gravação que vai de 53min a 1h03min.

Nesta semana, a pesquisadora recebeu o certificado de reconhecimento de projeto destaque da premiação.  Coincidentemente, o documento chegou na semana em que se celebra o Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência (o 11 de Fevereiro).  A data comemorativa foi criada em 2015 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Diante da conquista de Danielle, que representa um importante case de sucesso atrelado à data comemorativa, a Assessoria de Comunicação do IFRR resolveu entrevistar a profissional para inspirar a participação de outras mulheres na pesquisa científica e tecnológica.

Entrevista

Para quem não conhece, a professora Danielle está há pouco mais de um ano IFRR. Ela foi aprovada no concurso de 2019 e está lotada no Campus Amajari desde 2021. Chama a atenção pelo engajamento em diversos projetos científicos e no desenvolvimento de tecnologias. Já ocupou diversos cargos na instituição. Atualmente está à frente da Coordenação de Educação a Distância (CEAD) da unidade de ensino.

Natural de Minas Gerais, a pesquisadora é prata da casa da Rede Federal.  Fez o curso técnico, a graduação e o mestrado no atual IF Sudeste MG/Campus Rio Pomba (antigo Cefet Rio Pomba). Nesse processo, adentrou a  instituição quando esta ainda era Cefet, agarrando as oportunidades que ali surgiram. Depois,  fez doutorado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), passando em primeiro lugar na seleção.

 A docente Danielle Cunha em ação de entrega do material didático do Campus Amajari (CAM/IFRR)

A trajetória da profissional é marcada por diversos prêmios, sendo o mais recente o Elos da Amazônia. Por detrás dos louros, a vida da cientista envolveu muito estudo e trabalho para ser professora efetiva de um instituto federal. No entanto, antes disso, na carreira docente passou por outras instituições da Rede Federal. Conheça um pouco mais da nossa personagem da data comemorativa de hoje.

 

Ascom –  Quando começou a vontade de ser cientista?

Eu sou do interior de Minas Gerais e sempre ficava encantada com o uniforme dos estudantes do antigo Cefet Rio Pombas [atual IF Sudeste MG]. Na época, os estudantes eram majoritariamente masculinos, e eu tinha o sonho de um dia estudar lá. Em 2007, prestei o seletivo para a instituição, iniciando a minha jornada como cientista no curso Técnico em Informática, em 2008. Nesse período, a instituição me proporcionou acesso a várias atividades extracurriculares, como viagens técnicas, eventos e minicursos. Essas oportunidades fizeram com que eu optasse por fazer o curso superior ali, pois sabia que havia possibilidade de crescimento. Na época me encantei pelo curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos e prestei o vestibular, pois queria ser cientista. [...]

Ascom  –   Como sua experiência acadêmica contribuiu para se tornar uma cientista de alimentos?

Na graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (2009-2012), conforme esperado, tive oportunidade de desenvolver vários projetos, entre outras atividades acadêmicas. Participei de projeto de extensão, programas de iniciação científica, monitoria, organização de eventos, fui membro de empresa júnior – atuando como diretora de Marketing e, posteriormente, como presidente –, e também fui bolsista do Grupo PET Ciências Agrárias.

[...]  Havia ficado sabendo que, no meio daquele ano (2013), iria abrir o curso de Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos no Campus Rio Pomba. Devido à infinidade de oportunidades que já havia tido na unidade, resolvi continuar os meus estudos e carreira como cientista em Rio Pomba.

Depois de finalizar o mestrado (2015), ainda como bolsista DTI do CNPq, atuei como professora voluntária, em EAD e posteriormente como substituta, ministrando diversas disciplinas e coordenando vários trabalhos científicos, e não parei mais.

Ascom –  Em sua carreira, você ganhou diversos prêmios.  Ainda assim, acha que as mulheres têm desafios singulares para adentrar o mundo científico?

Sim, essa profissão ainda é muito vista como masculina. Existe a necessidade de provar constantemente que você merece estar no lugar em que está. Isso se torna um pouco mais complicado quando você é negra e vem de uma classe social menos favorecida economicamente, por exemplo, sou filha de cozinheira e vigilante noturno. Nesse caso, você tem de provar o triplo [...]  Nós, mulheres cientistas, temos de lutar a cada dia por nosso espaço.

Mas a verdade é que ninguém faz nada grandioso sozinho. Peça-chave na minha aprovação foi ter uma família e esposo que sempre me apoiaram, além de professores que me orientaram em todos os projetos de forma exemplar. Por isso, agradeço aos meus pais, aos meus irmãos, ao meu companheiro Jean e a todos os meus professores os ensinamentos e a amizade.

Professora Danielle realiza diversas pesquisas e projetos na área de processamento de alimentos

Ascom –  Você gostaria de comentar algum desafio particular para alcançar o status de hoje?

De família humilde, no início tive algumas dificuldades financeiras. Como não tinha dinheiro para o ônibus, andava 6 quilômetros todos os dias para chegar ao instituto, mas eu até gostava. Só era ruim em época de chuva.

Os apertos pela falta de dinheiro me fizeram esforçar ainda mais. Em todos os semestres da graduação, eu me escrevia em provas de seleção para atuar como monitora de componentes curriculares, pois, assim, ganhava alimentação e fotocópias pela atividade exercida. Fui monitora por oito vezes na graduação em diversas áreas, de microbiologia a genética.

Mais tarde, quando já estava no doutorado no Rio de Janeiro, passei no seletivo para professora substituta no campus em que havia estudado em Minas Gerais. Assim, fazia essa ponte, Rio-Minas, de ônibus toda semana.  Alguns anos depois, essa ponte virou Rio-Minas-Espírito Santo, quando passei no seletivo para o cargo de professora substituta do Instituto Federal do Espírito Santo/Campus Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo. Fazia especialização em Docência em Minas Gerais e  doutorado no Rio de Janeiro. Foi uma época de muita luta.

Ascom –  Quais projetos está desenvolvendo no momento?

Atualmente coordeno a linha de pesquisa “Conservação de frutos perecíveis a temperatura ambiente”, que foi apresentada de forma oral no evento Amazônia Investimentos & Innovation. Essa linha de pesquisa também foi apresentada no evento PITCH DAY POSITIVO – SOFTEX AMAZÔNIA, em 2021, sendo representada pelo trabalho de Pibict “Desenvolvimento de embalagem inteligente através de indicador natural de pH, tipo sensor, para verificar o frescor do pescado”. Conforme mencionado anteriormente, essa linha de pesquisa ganhou certificado de reconhecimento, sendo considerada destaque no Prêmio Elos da Amazônia –  Edição açaí.

Além disso, coordeno o projeto do GP Inovação “COVID-19 e Segurança de Alimentos: prevenção em Serviços de Alimentação e em Meios de Hospedagem” e o Pipad “Processamento da polpa de açaí e buriti para obtenção de produtos potencialmente funcionais: processamento de geleias e geleiadas”. Escrevo projetos com o apoio do Idesam/Suframa na linha Ppbios e atuo com docente do Campus CNP na escrita de projeto sobre erradicação da pobreza no sul de Roraima.

Ascom –  Qual recado gostaria de deixar para as meninas que sonham em ser cientistas?

Infelizmente, eu não tenho uma receita de bolo, do tipo faça isso ou faça aquilo. Acho que ninguém tem. Mas posso deixar algumas dicas às estudantes que também têm vontade de ser cientistas. Primeiramente, saiam da zona de conforto. Não pensem nos programas de iniciação científica, nos projetos de extensão, nas monitorias como trabalho. Pensem como oportunidades. Descubram do que gostam. Se para isso tiverem de fazer inúmeros cursos ou projetos, façam. Mas lembrem-se: o mais importante não é só fazer o que gosta, mas fazer tudo dando o seu melhor. Façam suas atividades com amor e dedicação, que a recompensa vem com o tempo. Porém, já adianto que, assim como vocês, minha jornada está apenas começando. Ainda tenho muito que caminhar e muito que aprender.

  

Sofia Lampert
Revisão: Antonio Matos
Fotos: arquivo pessoal
Ascom / Reitoria do IFRR
11/2/2022

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